Respiro
E viaja o ar pela garganta
No seu movimento cíclico —
Vaivém no centro do crânio.
Respiro
E no pêndulo do peito
Dentro fora, dentro fora —
Hesita-me a vida por instantes.
Inspiro
E
Penso
Se bastará este passo inato
Para tornar a carne viva
Humana e pessoal…
Expiro
E
Esqueço
Este intervalo da existência
Da dúvida que escurece o dia —
Claramente, limito-me a viver
E respiro.
Saturday, 25 September 2010
Se todo o ser
Se todo o ser ao vento abandonamos
E sem medo nem dó nos destruímos,
Se morremos em tudo o que sentimos
E podemos cantar, é porque estamos
Nus, em sangue, embalando a própria dor
Em frente às madrugadas do amor.
Quando a manhã brilhar refloriremos
E a alma beberá esse esplendor
Prometido nas formas que perdemos.
Sophia de Mello Breyner Andresen, "Se todo o ser", Obra Poética I (Editorial Caminho, 1998) 59.
E sem medo nem dó nos destruímos,
Se morremos em tudo o que sentimos
E podemos cantar, é porque estamos
Nus, em sangue, embalando a própria dor
Em frente às madrugadas do amor.
Quando a manhã brilhar refloriremos
E a alma beberá esse esplendor
Prometido nas formas que perdemos.
Sophia de Mello Breyner Andresen, "Se todo o ser", Obra Poética I (Editorial Caminho, 1998) 59.
Tuesday, 7 September 2010
Gostava de te mostrar
o meu labiríntico arvoredo ou
a sinfonia dos meus canteiros;
levar-te ligeiro pela mão
numa manhã deslumbrada de sol
— vês? — aqui, a gravidade das camélias
ali, os pirilampos, infinitos.
Haveria poços e covis de lobos
(portas inteiras de escuridão sonora)
mas também tulipas e girassóis
e rios, entornados em cascata,
e as folhas todas de doce vento.
Gostava de te mostrar
o meu jardim de dentro
(pétalas e pássaros, odoríferos, habitando
a nudez cava dos troncos)
gostava — mas uivam os lobos —
— tu assustas-te
o meu labiríntico arvoredo ou
a sinfonia dos meus canteiros;
levar-te ligeiro pela mão
numa manhã deslumbrada de sol
— vês? — aqui, a gravidade das camélias
ali, os pirilampos, infinitos.
Haveria poços e covis de lobos
(portas inteiras de escuridão sonora)
mas também tulipas e girassóis
e rios, entornados em cascata,
e as folhas todas de doce vento.
Gostava de te mostrar
o meu jardim de dentro
(pétalas e pássaros, odoríferos, habitando
a nudez cava dos troncos)
gostava — mas uivam os lobos —
— tu assustas-te
Um
Olho para o lado e sorrio. Sorrio porque a lua olha sempre por mim.
Hoje sou grande, sinto-me grande! Invento argumentos, construo cenários, vejo sorrisos e imaginos diálogos. Desenho noites onde a lua nos ilumina, silêncios cumplices de almofada para almofada depois de madrugadas em lençois desalinhados. A realidade ri-se de mim, pois sabe que a perfeiçao que eu idealizo nunca se tornará real. Aprendi que os meus sonhos vivem dentro dos livros, dentro das músicas, dentro dos filmes que me fazem sonhar. E ai fico porque apesar de tudo acredito que o ultimo amor é aquele que vivemos com mais intensidade, paixão e cumplicidade e que queremos que dure a vida inteira. Eu acredito que ainda existem amores assim, arrebatadores mas nunca perfeitos.
Hoje sou grande, sinto-me grande! Invento argumentos, construo cenários, vejo sorrisos e imaginos diálogos. Desenho noites onde a lua nos ilumina, silêncios cumplices de almofada para almofada depois de madrugadas em lençois desalinhados. A realidade ri-se de mim, pois sabe que a perfeiçao que eu idealizo nunca se tornará real. Aprendi que os meus sonhos vivem dentro dos livros, dentro das músicas, dentro dos filmes que me fazem sonhar. E ai fico porque apesar de tudo acredito que o ultimo amor é aquele que vivemos com mais intensidade, paixão e cumplicidade e que queremos que dure a vida inteira. Eu acredito que ainda existem amores assim, arrebatadores mas nunca perfeitos.
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