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"Aprende-se a escrever, lendo. E também é necessária uma grande humildade face ao material da escrita. É a mão que escreve. A nossa mão é mais inteligente do que nós. Não é o autor que tem de ser inteligente, é a obra. O autor não escreve tão bem quanto os livros."
António Lobo Antunes

Monday, 19 October 2009

Livro Aberto

Fazes-me sentir um livro aberto... Um livro que sabes de cor e onde, ao virar de cada página, deixaste a tua marca com os dedos que levavas à boca, como que a beijar-me em cada momento da minha vida. Porque decidiste ler-me? Eu que sou um livro de capa tão rija, com folhas já meio rasgadas pelo tempo e envelhecidas pelo pó? Eu que já estava habituada ao meu lugar cativo, na prateleira dos não lidos? Sinceramente, não sei, não faço ideia e até confesso que me assusta um pouco.
Já houve quem tentasse ler-me e, simplesmente, não continuou! Serei assim tão má literatura? Penso nisso vezes sem conta. Tenho alguns erros, é verdade e em alguns capítulos sou confusa, mas não são assim todos os livros? Assumo que a minha impressão não é das melhores e que nem sequer tenho ilustração, mas acho que sou um bom livro.
Talvez o meu livro tenha pedaços teus. Vistas bem as coisas, o meu sorriso é mesmo meu ou será que é nosso? Faria todo o sentido ser teu também uma vez que sorri para ti como para mais ninguém… e os meus lábios? Será que são deveras meus se muitas das vezes se tornam parte da tua boca? Acho que nada em mim é apenas meu, acho que tudo em mim é secretamente nosso.
Se sou um livro tenho a certeza de que não me lês como a maior parte das pessoas, através de pequenas sucessões de palavras.
Sei que me lês com os olhos. Não hesitas, nem tão pouco pedes licença ou autorização pois analisas-me, invades-me e decoras-me como se fosse totalmente tua. Chego a sentir-me pequena, sou menor a cada olhar teu mas é na pequenez das coisas – das nossas coisas principalmente - que sou feliz. E eu sei quando me olhas, consigo sentir-te meigo, doce, absorvido em ti, por nós… e tanto que eu gosto! Acho que tanto tu como eu temos de nos dedicar mais à leitura não vamos nós perder um daqueles capítulos que valem pelo livro todo. Sei que me lês com os olhos, os mesmos que me cegam de amor…continua, os teus olhos são meus e os meus são teus e tu bem o sabes.


A tua, Piloli.

Sou dona do espaço que será teu quando quiseres.

A vida dá muitas voltas, é certo mas será que dá as voltas certas? Continuo a deixar cair migalhas e migalhas para que não me perca, para que não me percas. Pergunto-me se após tantos planos e rotas calculadas cabe ao acaso juntar-nos para sempre? Talvez sim, talvez não, talvez apenas. Até hoje só fiz planos para nós dois, mas como sabes sou conhecida por frases bem ao estilo do "logo se vê!" Sabes que a antecipação nunca foi o meu forte e mediante tantas pedras no caminho deixei de as apanhar e comecei a contorná-las. Aliás, posso mesmo afirmar que a minha vida se tem feito disso mesmo, de pedras e contornos mas por ti apanharei tantas quanto for preciso pois o caminho que procuro só tem destino se for a dois. Sabes que estou á altura dos nossos planos e embora tenha a consciencia de que não vai ser fácil é-me ainda mais dificil nao te dizer bom dia todos os dias. Vivi por muito tempo uma falsa sensação de plenitude que perdi no dia que te reecontrei. Hoje, na cama sem ti, sou dona do espaço que será teu quando quiseres.